quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Sexto sentido é o caralho!

A realidade sempre me assusta, principalmente quando paro para refletir sobre ela – dar um ninja na realidade é a minha especialidade.
Ainda não havia assistido à série do fantástico sobre o aquecimento global – até o domingo passado – sempre estava no computador enquanto os episódios estavam sendo exibidos e apenas escutava, mas achava muito estranha a expressão no rosto da minha mãe e da minha irmã – os olhos fora de órbita. Um dia até ensaiei um discurso, disse que não se impressionassem com toda aquela produção terrorista da globo, pois tudo era muito bem planejado, muito bem editado, mas deram de ombros e continuaram propondo saídas para não morrerem derretidas. No domingo passado foi a minha vez, de fato a produção terrorista da globo é de impressionar, também fiquei com os olhos arregalados, me assustei de fato e depois de algumas pesquisas (google) virei expert em aquecimento global, mas bom seria se o google resolvesse todos os meus problemas...

Em plena quarta-feira, cheguei em casa fudida de cansada, já perto das 11h, todas já haviam se recolhido e tudo o que me esperava era um macarrão, em um cubo só, no formato da panela, em cima do fogão, nem liguei a televisão para não perder tempo de sono, queria deitar na cama o quanto antes. Havia jogado na mega-sena e na falta de uma realidade mais humana, comecei a pensar no que faria com o mega-prêmio.
Ainda à tarde, achei um pingente num pacote de Doritos que significava “tranqüilidade” em japonês, tomei logo como um sinal – “Nossa, terei tranqüilidade, só pode ser a mega-sena!” – amarrei o pingente no pescoço, dei dois beijinhos e agradeci a Deus por ele ter me escolhido, não o decepcionaria. Na faculdade, na primeira ata que assinei, meu nome era o 5º - “O dia do meu aniversário, só pode ser um aviso!” – e na segunda ata, o 13º - “Eita porra, fudeu! Mas 1+3=4 que é o mês do meu aniversário!!!” – estava aceitando qualquer sinal, definitivamente a mega-sena era minha.
Mas àquela hora da noite, a idéia era dormir, pois ainda era quarta-feira e como a rua é o meu lar e a casa, meu dormitório, teria que acordar bem cedo para começar mais um dia completo, com direito a trabalhar o dia todo e estudar à noite.
“Mas um carro alto deve ser bem confortável, só deve ser um pouco ruim pra estacionar” –mas eu pediria para alguém estacionar no caso d’eu não dar cabo. Alugaria uma suíte de um hotel luxuoso que procuraria na lista telefônica, pois não conheço os hotéis da minha cidade, ligaria para minha mãe e minha irmã dizendo que estaria mandando um carro para pegá-las no trabalho. Quando elas chegassem, serviria o melhor vinho, entregaria os cartões com o nome de cada uma e informaria que agora viveríamos dos lucros dos nossos milhões. Elas cairiam duras e, esperta que sou, deixaria um médico na porta para o caso de alguém passar mal. Pagaria todas as minhas dívidas num só dia, tiraria a carteira de motorista em quinze dias, ajudaria alguns amigos de guerra, compraria um apartamento na cobertura de um prédio, com metros quadrados a perder de vista, passaria o carnaval em machu pichu, da minha casa só levaria algumas quinquilharias de valor sentimental, meu HD e nada mais. Depois da vida organizada e as contas pagas, iria estudar artes da Itália, culinária da Espanha, cinema em Cuba...
Olhei para o relógio e já passava das duas, mas a intuição de que seria a mais nova milionária insistia, resolvi não pensar em nada para ver se o sono vinha, ainda pensei em entrar na Internet para conferir logo o resultado, mas não precisava me apressar, o sol nasce pra todos e no dia seguinte ele nasceria só para mim, dormi.
Escutei uma voz distante: - Olha a hora! O ventilador parou de soprar – minha mãe sempre me acorda quando sai do banho e desliga o ventilador para que o mundo me trague de volta – abri os olhos ardidos, mas eu era uma milionária, poderia me atrasar para o trabalho que dispensaria em alguns instantes. Sentei na privada e o sono insistia, não conseguia abrir os olhos, ainda cochilei sentada, acordei num susto e entrei de cara no chuveiro. Seria o meu último banho naquele banheiro apertado e com aquela água gelada na cara, a última vez que tomaria banho dormindo, definitivamente.
Peguei o ônibus com a certeza de que seria o último e ao chegar no trabalho, olhei para o meu chefe com desdém, ele não me serviria mais, agora poderia falar com ele de igual para igual. Liguei o computador e de imediato entrei no site da Caixa, Loterias, Resultado...
Não acertei nem um número, nem um mísero número de consolação!! Àquela altura estaria aceitando até a quina de muito bom grado. Como podia a realidade ser tão cruel diante da perspectiva de um sonho?
Abri o MSN, conferi os recados do Orkut e continuei vivendo essa realidade intragável com um sono do caralho... Quem sabe se na sexta a galera não topa tomar uma...